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CASAIS COM PAZ E VIDA

Em alguns casos, este tipo de alimento se iguala a ultraprocessados comuns, categoria de produtos alimentícios de baixo valor nutricional com potencial de causar danos à saúde.

Carne vegetal ou à base de plantas, uma ideia que pode soar um tanto futurista, mas que, nos últimos anos, tem ganhado cada vez mais a atenção da indústria alimentícia. Nos freezers pelos mercados, uma variedade deste alimento que promete ser a “carne” do futuro chama a atenção: hambúrgueres, almôndegas, nuggets e até atum — tudo sem um traço de proteína animal.

A proposta que, em tese, promete ser mais saudável e sustentável por não utilizar a pecuária e, consequentemente, causar menos danos ao meio ambiente, pode não representar um saldo positivo no que diz respeito ao valor nutricional, segundo especialistas ouvidas pelo R7.

Os produtos — que entregam a cor, textura e até o sabor da carne — também são considerados ultraprocessados, uma categoria de alimentos que indica um processo industrial intenso, caracterizado pela perda de nutrientes importantes e o excesso de conservantes.

Na composição da carne vegetal, a proteína de soja, muito usada por vegetarianos e outros grupos que abandonaram o consumo animal, divide o protagonismo com a proteína de ervilha e a beterraba, esta última responsável por entregar a coloração característica da carne bovina, por exemplo.

A questão, neste caso, é que a lista de ingredientes não para por aí: entram também os conservantes, corantes, estabilizantes, essências, flavorizantes e realçadores de sabor, como o glutamato monossódico — substâncias químicas chamadas de xenobióticos, conhecidas por seus prejuízos à saúde.

“Os xenobióticos atrapalham o processo bioquímico do organismo, o deixando mais inflamado. Então possivelmente se a pessoa tem um limiar de dor maior, ela vai sentir mais dor, vai ter o intestino mais preguiçoso ou mais solto, além de causar uma demora maior no processo de emagrecimento, mesmo sendo produtos menos calóricos”, destaca Gabriela Cilla, nutricionista clínica e funcional.

Vale ressaltar, no entanto, que as marcas que oferecem as carnes vegetais com um rótulo mais limpo, isto é, com menos ingredientes e componentes químicos, podem representar uma boa opção para aqueles que querem tirar a proteína animal do cardápio. Ainda assim, mesmo nestes casos, o consumo diário ou recorrente não é recomendado.

Trocando seis por meia dúzia

Por outro lado, quanto mais natural for a carne vegetal, mais alto é o preço. A lógica também vale para o contrário: quanto mais ultraprocessada for, a tendência é que o preço fique mais barato. É desta forma que a indústria alimentícia funciona, conforme explica Raquel Canuto, professora do Departamento de Nutrição da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

“Depois de conseguir dar conta dessa parcela da população que tem um pouco mais de poder de compra, a indústria dos alimentos sempre vai para a população mais pobre e, infelizmente, esses alimentos sempre são de pior qualidade nutricional”, explica a especialista.

Neste sentido, o cenário continua desfavorável para que as populações de baixa renda reduzam o consumo de carne vermelha, algo que também não é saudável, já que este tipo de proteína é fonte de colesterol, um tipo de gordura animal que prejudica a saúde.

“Quando comparamos os hambúrgueres vegetais — que vou chamar de embutidos vegetais — com a carne em natura, podemos pensar que do ponto de vista de saúde é melhor comer um frango, um peixe, ou qualquer outra carne, do que comer um alimento vegetal ultraprocessado que vai ter os mesmo malefícios à saúde. Temos uma vasta literatura que aponta isso”, afirma Raquel.

A comparação também vale para os nuggets vegetal e de origem animal. Neste caso, nenhum dos dois são considerados saudáveis ou boas opções, de acordo com a nutricionista Gabriela Cilla.

“O problema do nuggets animal é a quantidade de gordura que tem, porque é um ultraprocessado composto por cartilagem moída, pele, osso, músculo e até miúdo. Em questão nutricional, ele vai ter uma gordura de origem animal maior, vai aumentar o colesterol e vai ter mais sódio. O produto vegetal só não tem colesterol, porque de resto, em questão de conservantes, vai ser basicamente igual”, explica.

Se a troca não representa um ganho do ponto de visto nutricional, também não é muito eficaz para frear os impactos no meio ambiente, conforme destaca Raquel.

“Muito se discute que a indústria dos ultraprocessados é a mesma indústria pecuária, então também tem uma série de outras questões ambientais atreladas à produção dos ultraprocessados com danos ao meio ambiente. Então trocar alimentos in natura, carne por exemplo, por alimentos ultraprocessados, não é uma grande vantagem”, afirma.

Quando a troca é saudável?

Para quem quer parar de consumir carnes ou apenas reduzir o consumo, as especialistas recomendam apostar nos alimentos preparados em casa com ingredientes naturais que sejam ricos em proteínas.

“Sempre indico, por exemplo, um hambúrguer de grão-de-bico feito em casa, ou de shimeji, [um prato feito] com berinjela ou abobrinha, quinoa. Para quem quer tentar fazer aquela Segunda Sem Carne [movimento que propõe a redução do consumo de proteína animal] e durante a semana consumir produtos que não sejam industrializados, a carne vegetal ajuda, mas para a rotina é mais válido fazer o preparo em casa”, destaca Gabriela.

Além disso, há uma vasta opção de alimentos vegetais ricos em proteína que podem suprir as necessidades do organismo sem o impacto do consumo da carne. O arroz com feijão, combinação tradicional na alimentação dos brasileiros, é um exemplo de refeição que dispensa a proteína animal, de acordo com Raquel Canuto.

“O feijão consegue ser uma boa fonte vegetal de ferro, um nutriente que é mais presente principalmente nas carnes vermelhas, e temos uma diversidade muito grande de tipos de feijão no Brasil. Tem a lentilha, que é uma leguminosa um pouquinho mais cara, mas que também na comparação com a carne se torna barata, a própria ervilha é uma boa opção. Se não for um vegetariano restrito, a pessoa pode substituir tranquilamente a carne por ovos, leite, queijo, que também ajudam a compor a dieta de forma que não falte nada”, explica.

Raquel também ressalta que, exceto a deficiência de vitamina B12, não consumir carne não leva a nenhum outro prejuízo à saúde. “Muito pelo contrário, sabemos que se a pessoa parar de comer carne e conseguir levar uma dieta saudável, ela vai ter ganhos na saúde cardiovascular, até alguma coisa com relação à obesidade e diabetes.”

Fonte: R7

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