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CASAIS COM PAZ E VIDA

Desemprego no Brasil ficou em 9,8% no trimestre encerrado em maio, menor taxa para o período desde 2015.

A queda do desemprego registrada no trimestre encerrado em maio pode ser explicada pelas medidas de estímulo lançadas pelo governo e a retomada das atividades econômicas, dizem especialistas.

De acordo com os dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgados nesta quinta-feira (30) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego no Brasil no período ficou em 9,8%, menor taxa para o período desde 2015, quando foi de 8,3%.

A taxa surpreendeu o mercado, que projetava um resultado de 10,24% no período. Em relação ao trimestre anterior, de dezembro de 2021 a fevereiro de 2022, a taxa caiu 1,4 ponto percentual (p.p.). Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a queda foi de 4,9 p.p. O pesquisador do FGV/Ibre Fernando Holanda avalia que o principal aspecto para a queda no número de desempregados é a retomada da atividade econômica.

“Esses três primeiros meses mostraram uma volta à normalidade. As atividades que mais puxaram o indicador para baixo foram o alojamento e alimentação – comer fora de casa e viajar, por exemplo. A parte de transportes foi muito influenciada pelas viagens aéreas. Além disso, o setor de cultura, que abrange o segmento da economia criativa, cresceu neste ano, que são atividades que demandam a proximidade entre as pessoas”.

Segundo o IBGE, o número de pessoas ocupadas atingiu 97,5 milhões, o maior da série histórica iniciada em 2012, e mostrou alta de 2,4% na comparação com o trimestre anterior, o que equivale a 2,3 milhões de pessoas a mais. Na comparação anual, a alta é de 10,6%, com 9,4 milhões de ocupados a mais no ano.

Rodolfo Margato, economista da XP, elenca um segundo ponto que também beneficiou os resultados do mercado de trabalho. Segundo o economista, as medidas de estímulos fiscais adotadas pelo governo “parecem ter surtido efeito sobre o comércio varejista e sobre alguns serviços”.

“Medidas de estímulo fiscal acabam puxando atividade doméstica no curto prazo, isso também se traduz em mais contratação de mão de obra. Inclusive, outras medidas que estão sendo discutidas no Congresso podem gerar um efeito líquido positivo no terceiro trimestre”.

O economista da LCA Bruno Imaizumi também destaca o impulso gerado pelas medidas de estímulo adotadas pelo governo, como a antecipação do 13º salário do INSS, os saques extraordinários do FGTS, a redução da bandeira tarifária de escassez hídrica e a desoneração fiscal de combustíveis, energia elétrica e comunicação.

“Isso de alguma forma tem ajudado a vermos números melhores na atividade e, consequentemente, no mercado de trabalho”, diz. De acordo com o economista, observando os dados de maio, o destaque é o aumento das carteiras assinadas – ocorrendo acima do Caged na média móvel de três meses -, mas também houve elevação dos postos informais no período.

Dados devem ser vistos com cautela

Ainda que a taxa de desempregados tenha atingido o menor número em sete anos, o economista Bruno Imaizumi lembra que o dado também reflete o não retorno ao mercado de trabalho, após a pandemia de Covid-19, de uma parcela da população, formada principalmente por mulheres e idosos.

“Quando comparamos maio com fevereiro de 2020, temos ainda 2,8 milhões de pessoas a mais fora da força de trabalho. São pessoas que não conseguiram retornar ao mercado”, afirma.

Além dessa perspectiva de análise, Rodolfo Margato pontua o rendimento como outro recorte que deve ser avaliado com cautela.

Ainda que o rendimento real médio subiu 0,5% em maio, marcando a quarta alta consecutiva. “O indicador ainda está rodando cerca de 7,5% abaixo dos níveis registrados antes da crise do coronavírus, como reflexo da inflação persistentemente alta e dos menores salários reais de admissão”, afirma.

Por sua vez, a massa de rendimento real – combina rendimento médio com população ocupada – cresceu 1,7% em maio. A variável situa-se cerca de 3,5% abaixo dos níveis observados antes da crise de saúde pública, porém mais de 5% acima do nível registrado no final de 2021.

Fernando Holanda, do FGV Ibre lembra que é preciso de um mercado de trabalho mais forte para que o rendimento aumente.

“Uma vez que a crise atinge a economia, observamos que as pessoas ficam dispostas a trabalhar por um salário menor. Então, elas aceitam empregos que pagam menos, e isso reduz a massa salarial. Isso já era, de certa forma, esperado, e é até um efeito natural do que acontece em um ajuste, ainda mais em uma crise forte que foi a pandemia.”

Perspectivas

Os especialistas avaliam os resultados observados nesta quinta-feira tendem a alterar as projeções para o final de 2022. Segundo Bruno Imaizumi, a expectativa da LCA era para uma taxa de 9,8%, “mas provavelmente deve ficar mais baixa”.

O economista pondera que a taxa mais baixa não necessariamente significa um mercado de trabalho melhor. “A taxa de desemprego talvez permaneça por muito tempo em um patamar mais baixo, mas isso não vai estar refletindo a situação melhor do mercado de trabalho”, diz. “Muitas pessoas que deixaram o mercado durante a pandemia talvez não retornem”.

Ainda que exista o elemento surpresa do resultado do trimestre encerrado em maio, pode não ser uma tendência duradoura, segundo os especialistas.

Para Holanda, as medidas de combate à inflação podem desacelerar a economia e, consequentemente, interromper a sequência de melhora na taxa de desemprego para o segundo semestre.

O pesquisador do FGV Ibre ainda pontua que as medidas de estímulo trazem um “choque positivo” na demanda e no aumento de renda. No entanto, isso também fará com que o remédio contra a inflação, ou seja, o aumento na taxa básica de juros, seja elevado.

Na projeção de Rodolfo Margato, da XP, a taxa de desemprego brasileira atingirá cerca de 9% ao final de 2022 (na série com ajuste sazonal), levando em conta uma leve piora no quarto trimestre. “No que diz respeito à taxa média anual de desemprego, estimamos em 10,3%”.

Fonte: CNN BRASIL

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