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CASAIS COM PAZ E VIDA

CEO da empresa que criou o mecanismo acredita que o equipamento pode ajudar o setor de hospitalidade e combater escassez de mão de obra.

Zanzando pelos corredores do centro de inovação Cyberport, em Hong Kong, o pequeno Rice Robot está numa missão. O pequeno cubo branco atarracado lembra o robô R2D2 de Star Wars na forma, mas seus olhos arregalados parecem o WALL-E da Pixar. O robô está entregando bebidas aos clientes do café HFT Life por meio de um compartimento em sua “cabeça”, que é desbloqueado pelo cliente com um código enviado para seu celular.

Embora as operações do Rice nesse café sejam limitadas à distribuição de bebidas, o compacto robô já fornece uma variedade de serviços em outros locais em Hong Kong e no Japão. O robô é um carregador de malas no hotel Dorsett Wanchai de Hong Kong, e oferece serviço de quarto aos hóspedes. Em Tóquio, ele entrega lanches para os funcionários na sede do Grupo SoftBank, direto da loja de conveniência 7-Eleven localizada no prédio. No início deste ano, o Rice fez sua estreia na televisão na série cantonesa Communion, onde entregava café a um membro do elenco.

Além disso, o Rice faz parte de uma nova geração de robôs inteligentes, capazes de circular em ambientes complexos e movimentados, incluindo elevadores. Equipado com sensores de luz, câmeras de profundidade e sensores de ultrassom para evitar obstáculos, o Rice pode manobrar livremente em hotéis e centros comerciais de vários andares, disse Viktor Lee, fundador e CEO da Rice Robotics.

Descrevendo o Rice como “o robô amigo da vizinhança”, Lee espera que ele possa ajudar o setor de hospitalidade a combater a escassez de mão de obra à medida que a população envelhece, ao mesmo tempo em que atende a uma demanda pós-pandemia por maiores protocolos de higiene.

“Mesmo depois da Covid, as pessoas estão prestando muita atenção às formas de contato”, afirmou Lee. Ele acredita que “esse tipo de robô de entrega terá um crescimento constante nos próximos cinco a dez anos”.

O boom robótico pós-pandemia

Com experiência em logística, Lee fundou a Rice Robotics em 2019 para resolver o desafio das “entregas de última milha”.

Com o apoio do Cyberport Incubation Programme, Lee e a sua equipe desenvolveram o Rice, o primeiro de seus três robôs. Projetado para a entrega de mercadorias, ele pode ser usado em áreas como saúde, varejo, logística e hospitalidade.

A pandemia criou uma nova demanda por robôs de serviço, com esse mercado crescendo 12% em 2020, de acordo com a Federação Internacional de Robótica. Isso abriu uma nova frente para o Rice: mordomo de hotel de quarentena. Em Hong Kong, regulamentos rigorosos têm deixado viajantes em quarentena por até três semanas, e os hotéis tiveram de encontrar novas maneiras de minimizar o contato entre as pessoas e evitar a contaminação cruzada.

O hotel Dorsett Wanchai começou a usar os robôs Rice em junho de 2021. “É uma ótima maneira de atender nossos clientes e seguir nossos padrões de serviço, mantendo o distanciamento social e as medidas de proteção”, comentou a gerente geral Anita Chan, acrescentando que o feedback dos hóspedes tem sido positivo: “o Rice Robot tem uma aparência fofa e as crianças adoram”.

Lee contou ainda que, durante a pandemia, os clientes começaram a perguntar sobre robôs de limpeza. Sua equipe respondeu desenvolvendo um segundo robô em apenas oito semanas. Ao substituir o compartimento de entrega do Rice por um tanque de solução antisséptica, a Jasmine tem dois bicos de spray para aplicar o desinfetante.

A empresa criou uma nova personalidade para Jasmine –que já foi implementada em shoppings, centros de eventos e aeroportos– dando a ela sobrancelhas de desenho animado que se franzem em uma expressão mais séria. “Ela tem que higienizar o lugar todo, e não quer que ninguém fique no caminho”, disse Lee.

O terceiro produto da equipe, o Portal, é um robô mais alto com touch screen, interfone e câmeras de streaming para vigilância de áreas públicas. Além de fazer entregas, o Portal pode orientar visitantes em locais como shoppings, centros de eventos e hospitais.

Robôs hospitaleiros

Embora os robôs industriais sejam comuns nos setores automotivo, eletrônico e de produção, até mais recentemente a maioria dos robôs de serviço na área de hospitalidade era usada apenas para novos propósitos.

Mas a pandemia mudou isso, explicou Kaye Chon, reitora da Escola de Hotelaria e Gestão Turística da Universidade Politécnica de Hong Kong.

Por conta das restrições sociais e de viagem, “houve um êxodo de funcionários em nosso setor”, afirmou Chon. Junto às preocupações sanitárias e uma crescente aceitação da tecnologia inteligente por parte de clientes mais jovens, Chon vê a robótica como o próximo passo na “transformação digital” do setor de hospitalidade.

No entanto, a tecnologia ainda precisa superar alguns obstáculos para alcançar a mesma eficiência que os robôs industriais. Os custos ainda são altos para essa tecnologia –os produtos da Rice Robotics custam US$ 9 mil a unidade (cerca de R$ 46,5 mil na cotação atual)– e shoppings, hotéis e restaurantes precisam ser adaptados para serem mais amigáveis para os robôs, acrescentou Chon.

Os funcionários também precisam saber como programar os robôs, um conjunto de habilidades que falta no setor. Para remediar isso, Chon ajudou a elaborar um novo currículo de “turismo inteligente” que abrange inteligência artificial, robótica e big data, mas disse que levará um tempo para os alunos de hoje entrarem no mercado de trabalho. “É assim que nosso setor está evoluindo”, completou.

A Rice Robotics criou um aplicativo de gestão de frotas para os usuários, além de ajudar os clientes a fazer mudanças de infraestrutura, como programar os robôs e os sistemas de elevadores para se comunicarem entre si. A startup também oferece seus robôs por meio de um serviço de assinatura mensal a partir de US$ 800 a unidade (cerca de R$ 4.200), que inclui suporte técnico e no local.

E, embora os robôs possam ajudar a minimizar o contato entre as pessoas, eles ainda precisam ser higienizados pela equipe entre usos, mencionou Chon.

Chon vê uma grande oportunidade para os robôs realizarem tarefas simples e repetitivas em hotéis econômicos e de médio porte –mas a tecnologia ainda está muito longe de replicar os “pequenos toques pessoais” que as propriedades de luxo de alta qualidade oferecem, acrescentou.

Rápida expansão

A Rice Robotics não é o único player no mundo dos robôs de serviço. A empresa dinamarquesa UVD Robots fornece mordomos robóticos para o hotel Yotel, em Boston, nos Estados Unidos. A norte-americana Relay Robotics (anteriormente chamada Savioke) cria robôs de entrega para hotéis desde 2013, e o robô Matradee, da Richtech Robotics, auxilia garçons humanos sendo uma bandeja de serviço autônoma.

No entanto, o “rostinho bonito” do Rice aumenta seu apelo –e é uma parte intencional do design, revelou Lee. Estudos descobriram que características semelhantes a humanos aumentam a afinidade com robôs, tornando a estética do Rice uma parte fundamental de sua eficácia no setor de hospitalidade para marcas que esperam causar uma boa impressão em seus clientes.

A Rice Robotics cresceu rapidamente durante a pandemia, de uma equipe de três pessoas, em 2019, para 26. Agora com sede no Parque de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, a empresa abriu um escritório no Japão em 2021 para ajudar a gerenciar sua crescente base de clientes no país. Com uma população envelhecendo rapidamente, Lee contou que os robôs são essenciais para dar apoio aos setores de varejo e hospitalidade no Japão.

Além da hospitalidade, Lee vê os robôs se tornando mais comuns em nossos lares também. Em um projeto recente com o serviço de correios do Japão, várias unidades do Rice foram implementadas em um edifício para ajudar a entregar as correspondências para os residentes.

“Os robôs não estão tirando o emprego das pessoas, mas sim tentando ajudar a manter a sociedade em movimento”, alegou Lee, acrescentando: “Os robôs são o futuro”.

Fonte: CNN BRASIL

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